Crônica

Na parada de ônibus da Universidade estava parado anestesiado com a minha volta, sempre fora um cara que não gostava de ler na infância, na adolescência então um terror/horror, se o texto fosse logo demais era só metade, se era curto demais eram só as palavras principais. Leitura seletiva. Só depois de um tempo fora que me debrucei que o valor da leitura era algo mais do que fantasia, me propus um desafio, ler pelo menos um livro por mês, peguei todos os livros que tinha adquirido no meu tempo de colégio e me pus a lê-los o que era obrigação, passou a habito.
Voltando a parada de ônibus, fiquei justamente lendo vendo mergulhado nas palavras da história, fixo ansiando pela próxima página, sempre ansiando para chegar em casa e continuar de forma mais focada, infelizmente como chegara atrasado na parada perdi o primeiro ônibus, o segundo iria vir lotado, eles sempre vem lotados. Dito e feito, o segundo veio lotado, não reclamei, estava a degustar meu livro que nem notei a lotação, mas por um milagre logo vagou um assento, olhei rapidamente será que tem algum idoso ou deficiente que necessite sem essas prioridades apressei-me em sentar, a sensação foi ótima, agora verdadeiramente estava ótimo poderia descansar e ler, pois ainda teria mais ou menos 1 km de distancia da parada de ônibus até minha residência, sem problemas andar nunca fora algo difícil ou complicado demais para mim, sempre gostei de andar, faz bem para os pensamentos, eles parecem que a cada passada vão se agrupando e arrumando... Enfim... Algo estranho do ônibus aconteceu, não sei o que deu em mim, sempre ficava de cabeça baixa dessa vez resolvi levantar a cabeça e putz! Nunca tinha visto uma figura daquelas. Perdoe-me o clichê, mas porque toda mulher que parece que sair de seus sonhos veste branco? Em meio a isso, fiquei com a garganta seca, o livro não fazia mais sentido, mas o ônibus tava lotado, ela carregava sacolas de compras de supermercado. Porra ninguém vai ajuda-la? Nunca fui forte, sempre fui magrelo tipo coro e osso mesmo, me levantei desajeitado ofereci meu assento e trouxe as suas comprar para seus pés, afinal era uma moça, mais velha do que eu, isso seria... surreal! Afinal quem queria um magrelo, com olheiras e com aparelhos nos dentes? Ela se ofereceu para levar minha mochila, gentilmente eu recusei, disse a mesma que desceria logo e que não estava tão pesada assim, e que a mesma poderia descansar, pois parecia muito cansada. Sempre fora tímido também, com mulheres então... Uoooouuu era um loop, para tentar falar alguma coisa. Bem, fomos a viagem toda um ao lado do outro, eu em pé lendo um livro, ela sentada me olhando, fiquei envergonhado, afinal não sabia se me paquerava ou se era pelo gesto de ter cedido o assento para a mesma.
Ao chegar ao meu destino dei-lhe tchau, acho que seria pelo menos uma coisa legal de se fazer, ela me acena com a mão e continua a me olhar, depois que saiu e atravesso a calçada olho para trás, ela está na janela olhando para mim ainda, não sei se era admirada com meu gesto ou me paquerando. Eu olho para ela fixamente, nunca tinha olhado nem de longe uma mulher assim, ela me acena um tchau pergunta vamos nos ver de novo? Dei de ombros não sabia se sim ou se não. 
O ônibus partiu e eu fiquei ainda lá, por meia hora, sorrindo, nunca ninguém tinha me encarado tão forte e tão profundamente. Virei as costas dei um sorriso de canto de boca e disse a mim mesmo: "não sei se fui paquerado ou se foi o meu gesto, mas agora eu sei que eu vale a pena ser um cavalheiro". 

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